Em seus filmes, a violência das cenas de ação era expressa de forma inovadora, com edição entrecortada, efeitos sonoros e muitas tomadas em câmera lenta dentro de um contexto estético considerado "chocante" para a época.
A pesar do realismo, a violência não era a característica principal de seus filmes, e sim, a forma como era manipulada em função dos personagens.

Peckinpah participou de forma expressiva na concepção de um cinema moral (não moralista) que destacava decisões, escolhas éticas, e suas consequências. Seus westerns têm sintonia com clássicos do gênero, marcados pela ingenuidade moral presente na obra de mestres como John Ford.


Por anos, a personalidade extremista de Peckinpah gerou rumores sobre possíveis distúrbios emocionais. Muitos diziam que ele era maníaco-depressivo e paranóico. Esses rumores ganharam força com o notório abuso de álcool e drogas que comprometia a produção de seus filmes e causava desentendimentos com produtores e equipe, prejudicando a reputação e a carreira do cineasta.

Mesmo assim, o legado de Sam Peckinpah é marcado por sua ousadia e coragem ao romper com os padrões da indústria do cinema americano sem medir conseqüências. Grande parte de sua filmografia gera controvérsia até hoje.

Entre 1955 e 1960, Peckinpah trabalhou na televisão como roteirista e diretor de várias séries de westerns e policiais como
Gunsmoke,
The Rifleman,
The Westener e
Route 66.




Com tanta turbulência,
Juramento de Vingança fracassou nas bilheterias e foi massacrado pela crítica, prejudicando sériamente a reputação de Peckinpah.
A situação melhorou em 1966, quando Peckinpah adaptou e dirigiu
Noon Wine na TV. Com uma hora de duração, o filme foi exibido no programa
Stage 67 da rede ABC com excelente repercussão crítica, rendendo a Peckinpah, indicações do Writers Guild e do Directors Guild of America.
Noon Wine foi um divisor de águas, demonstrando o potencial dramático e artístico do diretor. Tornou-se uma raridade, e até hoje, só pode ser assistido na Biblioteca do Congresso e no Museum of Broadcasting de Washington.

Em 1969, Sam Peckinpah alcança o reconhecimento mundial com
Meu Ódio Será Sua Herança (
The Wild Bunch), um western controverso que registrou o início da estilizada violência que marcou sua obra.

Estrelado por William Holden, o filme conta a história de um veterana bando de foras-da-lei remanescentes da famigerada quadrilha dos Dalton, que acaba se envolvendo na sangrenta revolução mexicana. A época destaca o fim do Velho Oeste e da Era do Cowboy, causada pela formação das grandes fortunas dos famosos "Barões bandidos".





Nesse contexto, os indivíduos que não acompanham essas mudanças são derrotados por esse código pré-capitalista caracterizado pelas novas tecnologias de guerra como a mortífera metralhadora M1917 Browning, capaz de dizimar um batalhão. Muitos notaram um paralelo da violência do filme com a Guerra do Vietnã, que se encontrava no auge à época das filmagens.




Seu filme seguinte,
A Morte Não Manda Recado (
The Ballad of Cable Hogue, 1971), surpreende o público com tons de comédia e quase nenhuma violência.

Jason Robards interpreta Cable Hogue, um atrapalhado empreendedor que sonha com a fortuna após encontrar água no deserto que serviria para abastecer as carroças que passavam nessa remota trilha. Irônicamente, seus planos desabam quando surge no horizonte, o primeiro automóvel.


Filmado no deserto de Nevada, a produção foi problemática. Constantemente alcoolizado, Peckinpah demitiu 36 membros da equipe e estourou o orçamento em US$ 3 milhões, encerrando sua parceria com a Warner Brothers.


O fim da parceria com a Warner Brothers limitou as perspectivas profissionais de Peckinpah que, como "persona non-grata" em Hollywood, se viu obrigado a viajar à Inglaterra para rodar seu projeto seguinte.

Considerado como seu filme mais sinistro e perturbador,
Sob o Domínio do Medo (
Straw Dogs, 1971), reforçou a nova tendência realista (sem final feliz) do cinema dos anos 70.

Dustin Hoffman interpreta David, um tímido professor que se muda para o interior da Inglaterra com sua bonita e liberal esposa (Susan St. George), buscando fugir do caos que as manifestações de oposição à Guerra do Vietnam causavam nas universidades americanas.


Peckinpah reescreveu o roteiro original inspirando-se nos livros
African Genesis e
Territorial Imperative, que debatem a tese de que o homem é, essencialmente, um animal carnívoro e instintivamente territorialista.

Fora do "esquemão" hollywoodiano, o diretor teve liberdade para exorcisar seus demônios, retornando à violência gráfica que incluiu uma longa e chocante cena de estupro considerada ofensiva numa época em que as mulheres lutavam pela igualdade social.

Ainda em 1971, filmes como
Laranja Mecânica (
A Clockwork Orange), de Stanley Kubrick,
Operação França (
The French Connection), de William Friedkin e
Perseguidor Implacável (
Dirty Harry), de Don Siegel, também causaram muita polêmica por sua temática violenta e sexual. Essa tendência controversa chegou ao auge em 1976 com o impacto causado por
Taxi Driver, de Martin Scorsese.



Steve McQueen interpreta Junior Bonner, um veterano campeão de rodeios que volta à sua cidade natal para reencontrar o irmão e disputar um torneio, enfrentando o mesmo touro que o ferira gravemente no passado.



Peckinpah e Steve McQueen se reuniram novamente em
Os Implacáveis (
The Getaway, 1972), uma trama policial com romance e ação primorosa. Aclamado pela crítica, e com grande sucesso nas bilheterias, tornou-se um marco no gênero e na filmografia de Peckinpah.

McQueen interpreta o talentoso assaltante Doc McCoy, que cumpre pena numa penitenciária do Texas. Sua esposa, Carol (MacGraw), negocia sua liberdade com um mafioso em troca da realização de um novo assalto. Traído, o casal inicia uma fuga para o México, enquanto é perseguido pelos bandidos e pela polícia.

A veia criativa de Peckinpah se encontra em plena forma. A pesar de ter sido planejado como um filme "mainstream",
Os Implacáveis apresenta sequências narrativas com edição não-linear, como na abertura que mostra Doc sofrendo as pressões do cárcere, e no confronto final, um emocionante "showdown" (tiroteio decisivo) conduzido com maestria por Peckinpah, repleto de tomadas em câmera lenta.


O filme deu início ao conturbado relacionamento entre McQueen e Ali MacGraw. O fato gerou um escândalo em Hollywood, pois MacGraw era casada com Robert Evans, um dos maiores produtores de cinema da época.

Os Implacáveis permanece moderno e foi revisitado por Roger Donaldson em 1994. Dessa vez, com Alec Baldwin e Kim Bassinger (casados na época) como os McCoys.
Pat Garrett & Billy the Kid (1973) leva Peckinpah de volta ao western e conta a história dos últimos dias do pistoleiro Billy the Kid (Kris Kristofferson), perseguido por seu ex-companheiro de aventuras, Pat Garrett (James Coburn), que agora, se tornara um xerife.


Kristofferson introduziu o cantor Bob Dylan ao projeto para compôr e interpretar a canção-tema. Até então, Peckinpah desconhecia Dylan e sua obra, mas depois de ouvir a canção, ficou tão impressionado com o talento do compositor que, além de contratá-lo para compôr integralmente a trilha-sonora, ofereceu-lhe um pequeno papel.
Entre as canções que Dylan compôs para o filme, está
Knockin' on Heaven's Door, que até hoje, é considerada um clássico do folk-rock revista por diversos artistas, como Bob Marley, Eric Clapton, e Guns N' Roses.

Por pressão dos produtores,
Pat Garrett & Billy the Kid foi inteiramente rodado em locações no México, dificultando muito as filmagens, atrasando sua pós-produção, e prejudicando o resultado final do trabalho.
O filme não obteve boas críticas nem o retorno comercial que merecia. Anos depois, foram lançadas versões mais próximas ao que Peckinpah havia originalmente concebido, revalorizando seu trabalho.



Atualmente,
Alfredo Garcia é considerado um cult - principalmente por cineastas como Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, que declararam admirar a coragem de Peckinpah em realizá-lo.



Inevitávelmente, Peckinpah sofreu uma overdose de cocaína e foi internado para aplicação de um segundo marca-passo.


Mesmo passando por uma fase ruim, Peckinpah ainda era um diretor renomado. Após
Elite de Assassinos, ele recusou propostas para dirigir dois projetos que tiveram grande sucesso: o remake de
King Kong (1976 - dirigido por John Guillermin) e
Superman (1978 - dirigido por Richard Donner). Em lugar desses, optou por um denso drama de guerra com produção anglo-alemã e baixo orçamento.
Cruz de Ferro (
Cross of Iron, 1977), gira em torno de um grupo de soldados alemães lutando para sobreviver no front soviético durante a Segunda Guerra Mundial.

Irônicamente, a maior batalha se desenrola entre três oficiais: o sargento Steiner (James Coburn), o capitão Stransky (Maximilian Schell) e o coronel Brandt (James Mason), este, um tradicional oficial prussiano que busca apenas uma coisa: ser honrado com a Cruz de Ferro.

Ao longo deste conflito, os personagens descobrem que seus objetivos de guerra superam seus instintos de sobrevivência.


O filme teve enorme sucesso comercial na Europa e foi reverenciado por Orson Welles, que declarou ser este, um dos melhores filmes anti-guerra desde
Sem Novidade no Front (
All Quiet on The Western Front, 1930).



Com a intenção de realizar um "blockbuster", Peckinpah assume a direção de
Comboio (
Convoy, 1978), um road-movie eletrizante que seguia a tendência do sucesso de
Agarre-me se Puderes (
Smokey and the Bandit, 1977), estrelado pelo astro (na época) Burt Reynolds, que rendeu milhões e gerou duas sequências.

Comboio foi mais uma produção problemática de Peckinpah que, com a saúde debilitada pelo álcool - e novamente, a cocaína - não tinha condições físicas para aturar a dura empreitada no calor das locações do Arizona. Os produtores então, convocaram James Coburn para concluir as filmagens, enquanto Peckinpah permanecia isolado em seu trailer.

O filme atingiu suas espectativas comerciais, tornando-se o mais rentável da carreira de Peckinpah, que aos trancos e barrancos, conseguiu realizar um filme-pipoca à sua maneira, dando mais significado à temática, com criatividade, e muito estilo.


Nos três anos seguintes, Peckinpah permaneceu inativo. Até que em 1981, seu mentor, Don Siegel, o convidou para assumir a direção da unidade secundária de sua atual produção. Peckinpah topou imediatamente, e sua colaboração com Siegel foi notada pela indústria. Mais uma vez, Peckinpah retornava do ostracismo.

Em 1982, Peckinpah encontrava-se bem debilitado, mas agarrou a oportunidade de dirigir
O Casal Osterman (
The Osterman Weekend, 1983), um thriller de suspense baseado no livro de Robert Ludlum.


Mesmo receiosos, os produtores acreditavam que a "marca" Peckinpah agregaria valor ao projeto. E assim, foi. Renomados atores de Hollywood se apresentaram para o teste de elenco. Medalhões como John Hurt, Burt Lancaster e Dennis Hopper, aceitaram receber uma remuneração abaixo de seu padrão para trabalhar com Peckinpah.

Ao término das filmagens, produtores e diretor quase não se falavam. Mas dessa vez, Peckinpah entregou o filme no prazo e dentro do orçamento. A versão do diretor não agradou os produtores, principalmente a abertura, uma cena de sexo bizarra que foi totalmente alterada. Além dessa, várias cenas foram deletadas.

Mesmo com sequências de ação emocionantes e boa performance do elenco,
O Casal Osterman não agradou a crítica, mas teve grande sucesso na Europa e no recente mercado de home vídeo.

O início da década de 80 marcou o nascimento da MTV e a ascenção dos music-videos. Nessa mídia, Peckinpah realizou seus últimos trabalhos, dirigindo dois clips de Julian Lennon:
Valotte e
Too Late For Goodbyes.