O cineasta e roteirista australiano Peter Lindsay Weir, é um dos responsáveis pelo renascimento do cinema da Austrália e sua expansão para o mercado internacional. Seus primeiros filmes (2 com o futuro astro Mel Gibson) tiveram grande repercussão junto à crítica e público, acabando por levá-lo à Hollywood, onde continuou realizando sucessos originais, combinando o método e as técnicas da grande indústria cinematográfica americana com o estilo do cinema europeu.
Quatro de seus filmes já lhe renderam indicações como melhor diretor pela Academia de Artes e Ciências de Hollywood e no Directors Guild of America: A Testemunha (Witness, 1985), Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society, 1989), O Show de Truman (The Truman Show, 1998), e Mestre dos Mares: O Lado Mais Distante do Mundo (Master and Commander: The Far Side of the World, 2003).
Nos anos 60, Weir estudou Arte e Direito na Universidade de Sydney, onde começou a se interessar por cinema assim como o amigo e futuro cineasta, Phillip Noyce, que também migrou para a América e entre outros, dirigiu Jogos Patrióticos (Patriot Games, 1992) e Perigo Real e Imediato (Clear and Present Danger, 1994).
Interrompeu os estudos para viajar pela Europa, onde aprofundou seu conhecimento artístico e apaixonou-se pelo trabalho de mestres como Truffaut e Fellini. De volta a Austrália, Weir estava determinado a fazer parte do mundo do "show business" e assim, em 1967, ingressou na televisão. Neste período, teve a oportunidade de realizar dois pequenos filmes que tiveram grande sucesso.
Picnic na Montanha Misteriosa (Picnic at Hanging Rock, 1975) contou com um orçamento "substancial" (AU$ 450 mil) que possibilitou o desenvolvimento de seu estilo visual, com apuradas composições de tomadas que apoiavam a narrativa.
Uma sensação de sonho e irrealidade atravessa todo o filme, refletindo a perplexidade que invade os colonos ingleses perante o inesplicável. Este sentimento de estranheza diante a algo ancestral, indescritível e inerente à própria terra, foi reforçado pelo tratamento poético da fotografia e pela esplêndida trilha-sonora incidental com clássicos de Bach, Mozart e Beethoven, amarrados pela flauta Pã de Gheorghe Zamfir e pelo órgão de Marcel Cellier.
Além de lançar internacionalmente o nome de Peter Wier como cineasta, Picnic na Montanha Misteriosa foi aclamado pela crítica como um dos maiores exponentes do renascimento do cinema australiano dos anos 70.
Ambivalente, A Última Onda ampliava a reflexão psicológica de seu trabalho anterior. Foi bem recebido pela crítica australiana (prêmiado pelo Australian Film Institute) e internacional (Prêmio Especial do Júri no Festival de Cinema Fantástico de Avoriaz, França). Contudo, teve fraca performance nas bilheterias.
Estrelado pelo ainda desconhecido Mel Gibson, o drama de guerra Gallipoli (1981), acompanha um grupo de jovens vindos das áreas rurais da Austrália Ocidental, que se alistam no exército para lutar na Primeira Grande Guerra.
Enviados para a Turquia, participam da trágica Campanha de Gallipoli, onde forças britânicas, francesas, australianas e neozelândesas, fracassaram na tentativa de invasão da Turquia com pesadas perdas para ambos os lados.
A opção do diretor na abordagem de uma tragédia nacional como o horror insensato de Gallipoli, foi a da densidade dramática. Weir cita Ingmar Bergman como uma influência nesta escolha, lembrando-se de uma frase do cineasta alemão: "você pode fazer qualquer coisa na tela, menos matar uma pessoa. A platéia não se convencerá".
Hoje visto como um clássico do cinema australiano, o filme também foi essencial para a carreira de Mel Gibson, que dois anos antes, chamara a atenção da indústria cinematográfica mundial em Mad Max (1979), outro grande sucesso australiano, dirigido por George Miller.
Grande sucesso nos cinemas da Austrália e reconhecido internacionalmente, Gallipoli reforçou a reputação de Peter Weir como um competente cineasta em ascenção.
O Ano Que Vivemos em Perigo (The Year of Living Dangerously, 1982) marcou o apogeu da fase australiana de Peter Weir com uma história sobre lealdade, idealismo, amor e ambição, situada na caótica Indonésia de 1965, durante o regime totalitarista do presidente Sukarno.
O título refere-se à uma famosa citação italiana usada por Sukarno em um discursso do Dia da Independência Indonesiana: vivere pericolosamente (viver perigosamente).
O filme foi baseado no livro de Christopher Koch e relata muitas experiências vividas por seu irmão Philip, correspondente da ABC em Jakarta na época. Por mais de dez anos, sua exibição permaneceu proibida na Indonésia.
Rodado na Austrália e nas Filipinas, O Ano Que Vivemos em Perigo foi a primeira co-produção entre Austrália e Hollywood, com o suporte da MGM para reunir os US$ 6 milhões necessários para completar seu orçamento. Até hoje, o filme manteve sua posição como a maior produção do cinema australiano.
Sua interpretação do policial John Book não decepcionou, e acabou rendendo-lhe sua única indicação ao Oscar.
John Book (Ford) é um detetive que tem a vida revirada ao investigar o assassinato de um policial, testemunhado pelo menino Samuel, de oito anos, filho da viúva Rachel (Kelly McGillis), ambos integrantes de uma comunidade Amish da Filadélfia (que rejeita a modernidade). Agora, Book precisa defender a inocente testemunha e enfrentar um poderoso esquema de corrupção envolvendo a alta cúpula da polícia. Traído e caçado, refugia-se na comunidade Amish, adapta-se ao diferente estilo de vida e apaixona-se por Rachel.
Também participam do elenco, os iniciantes Danny Glover e Viggo Mortensen. O filme também destaca-se pela belíssima trilha-sonora de Maurice Jarre (vencedor do BAFTA) e a inspirada fotografia de John Seale (premiada com o Oscar).
Com o sucesso de A Testemunha, Weir passou a ter mais autonomia na escolha de seus projetos e mais liberdade criativa sobre a produção. Este aspecto mostrou-se evidente em seu trabalho seguinte.
O elenco também destaca as excelentes performances de Helen Mirren e River Phoenix, que no mesmo ano, chamara a atenção por seu trabalho em Conta Comigo (Stand By Me, dirigido por Rob Reiner a partir da obra de Stephen King).
No entanto, sua busca pelo Sonho Americano só lhe trouxe frustração. Allie acredita que a América foi corrompida pelo consumismo exacerbado. Em sua visão, os americanos compram porcarias, vendem porcarias e comem porcarias. Além disso, tem a convicção de que, em breve, a ganância e a criminalidade causarão um holocausto nuclear.
Impulsivo, Allie decide deixar a América junto com a esposa (Helen Mirren) e os quatro filhos, partindo ruma à selva da América Central. Contudo, a odisséia da família Fox em busca do paraíso transforma-se num desastre à medida que o comportamento obssessivo de Allie torna-se cada vez mais autoritário e agressivo.
Três anos depois, Weir lançou seu segundo blockbuster, Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society, 1989), onde Robin Williams interpreta o carismático John Keating, um professor de poesia nada ortodoxo da Academia Welton, uma escola preparatória para jovens na década de 50, extremamente conservadora e com rígidos valores tradicionais, como honra, disciplina, tradição e excelência.
Com sabedoria e talento para cativar a atenção da classe, Keating inspira seus alunos a perseguir paixões pessoais que transformem suas vidas. Em sua visão, o caminho para a liberdade de pensamento inclui contestação e bom-senso, evitando que sua personalidade fique vulnerável ao condicionamento conformista da sociedade.
Através de imagens metafóricas e citações literárias de autores como Thoreau, Whitman e Byron, o filme tenta passar uma filosofia de vida sintetizada pela expressão latina "carpe diem" (aproveite o dia).
Foi premiado com o Oscar de melhor roteiro original e recebeu indicações para melhor filme, diretor e ator (Robin Williams). Venceu o César de melhor filme estrangeiro e o BAFTA de melhor filme e melhor trilha-sonora original (composta pelo maestro Maurice Jarre).
Experimentando o gênero pela primeira vez, Weir assumiu um grande risco ao escalar Gérard Depardieu (em seu primeiro filme de língua inglesa) para interpretar Georges, um músico francês em busca de um green card (documento de cidadania americana). Para isso, combina um casamento de conveniência com a americana Brontë (Andie MacDowell), que sonha morar num prédio proibido para solteiros. Tudo se complica quando os dois realmente se apaixonam.
A pesar das críticas negativas, Green Card foi mais um sucesso de bilheteria de Weir, indicado ao Oscar de roteiro original e vencedor do Globo de Ouro de melhor filme (comédia ou musical). O filme também marcou o início da carreira internacional de Depardieu, que foi premiado com o Globo de Ouro de melhor ator (comédia ou musical).
Sem Medo de Viver (Fearless, 1993) leva Weir de volta ao clima sombrio de seus dramas.
Max Klein (Jeff Bridges) e Carla (Rosie Perez), são dois sobreviventes de um desastre de avião. Carla perde seu bebê e Max, tem uma epifania que altera sua percepção sobre o medo e a felicidade. Relutante em deixar esse estado de êxtase, Max não percebe o distanciamento com aqueles à sua volta. Para Carla, a vida acabou no momento em que seu filho morreu e a depressão, é uma constante. Estes dois estranhos tem o destino cruzado pela tragédia e juntos, atravessam um momento decisivo.
O estilo narrativo de Weir e a poderosa atuação de Bridges sustentam e dão credibilidade a temática existencialista da história. A sequência do acidente de avião é conduzida lenta e subjetivamente pela ótica de Max em estado de choque. Os sons são abafados, alternando explosões e gritos. Com simplicidade, Weir intensifica o drama da cena. Em alguns momentos, o filme é pontuado pelo primeiro movimento da Sinfonia No. 3 de Henryk Górecki (também conhecida como A Sinfonia das Músicas Tristes).
Sem Medo de Viver foi bem recebido pela crítica, que destacou o trabalho de Bridges e Rosie Perez (indicada ao Oscar de atriz co-adjuvante) e a inventividade de Weir. Porém, seu tema denso e desconfortante não teve o mesmo apelo junto ao grande público como seus filmes anteriores.
Cinco anos depois, Weir retorna com O Show de Truman (The Truman Show, 1998), uma fantasia satírica que enfoca o controle da mídia sobre a vida, envolvendo temas como Cristianismo, realidade virtual e existencialismo, antecipando a explosão dos reality shows da televisão.
Entretanto, existe algo estranho neste paraíso. Em busca da verdade, Truman descobre que toda a sua vida é um reality show criado e comandado por Christof (Ed Harris), e que sua cidade, nada mais é do que um gigantesco estúdio que pode até ser visto do espaço.
A partir daí, Truman inicia sua jornada de libertação, conquistando seus medos em busca do mundo real.
O Truman criado por Carrey, equilibra humor e drama deliciosamente e dá ao comediante, a chance de diversificar a percepção do público sobre seu trabalho.
A música do filme também merece destaque. A excelente trilha-sonora original composta pelo australiano Burkhard Dallwitz, é pontuada por uma trilha incidental que inclui composições de Philip Glass (selecionadas de trabalhos anteriores como Powaqqatsi, Anima Mundi e Mishima), Chopin (concerto de piano Romance-Larghetto, executado por Arthur Rubinstein) e Mozart (Rondo Alla Turca - Piano Sonata No. 11, executada por Wilhelm Kempff).
Paul Bettany interpreta o cirurgião Stephen Maturin, médico de bordo, filósofo, naturalista e grande amigo de Aubrey.
Buscando o máximo de autenticidade, todo o elenco participou de um intenso treinamento na rotina da vida naval da época. A excelente direção de arte teve muito trabalho para reproduzir visualmente a ambientação da vida marítima a bordo de um galeão do século 19. Algumas cenas externas foram filmadas em alto mar, a bordo de uma réplica da fragata HMS Rose.
Cenas mais complexas (como a da batalha final), foram rodadas em um tanque artificial capaz de conter 2 réplicas de navios em escala original.
Uma sequência de tempestade foi finalizada com composições digitais de ondas originalmente filmadas a bordo de uma réplica do HMS Endeavour (do notório cap. Cook) nas águas revoltas do Cabo Horn (extremo sul do continente americano).
Peter Weir percorreu o mundo em busca de revelação e de uma maior compreenção da verdade. Já rodou filmes nos cinco continentes, mas sempre que viaja, acaba encontrando um caminho de volta à suas origens. Como qualquer bom artista, encara as aparentes contradições de sua natureza, não como problemas, e sim como oportunidades que incentivam sua curiosidade levando-o à buscar experiências diferentes.
Em seus filmes, o cineasta acabou por encontrar pessoas que, assim como ele, sempre assumem os riscos.
Atualmente morando em Sydney, sua cidade-natal, Peter Weir percorreu um longo caminho em sua carreira desde o início no quase inexistente mercado de cinema australiano dos anos 70. A pesar das duas décadas seguintes em Hollywood terem sido marcadas por grandes sucessos, aos 65 anos, este aclamado diretor ainda enfrenta grandes dificuldades para filmar e exibir suas produções em meio ao esquemão da indústria cinematográfica do século 21.
Uma sensação de sonho e irrealidade atravessa todo o filme, refletindo a perplexidade que invade os colonos ingleses perante o inesplicável. Este sentimento de estranheza diante a algo ancestral, indescritível e inerente à própria terra, foi reforçado pelo tratamento poético da fotografia e pela esplêndida trilha-sonora incidental com clássicos de Bach, Mozart e Beethoven, amarrados pela flauta Pã de Gheorghe Zamfir e pelo órgão de Marcel Cellier.
Além de lançar internacionalmente o nome de Peter Wier como cineasta, Picnic na Montanha Misteriosa foi aclamado pela crítica como um dos maiores exponentes do renascimento do cinema australiano dos anos 70.
Ambivalente, A Última Onda ampliava a reflexão psicológica de seu trabalho anterior. Foi bem recebido pela crítica australiana (prêmiado pelo Australian Film Institute) e internacional (Prêmio Especial do Júri no Festival de Cinema Fantástico de Avoriaz, França). Contudo, teve fraca performance nas bilheterias.
Estrelado pelo ainda desconhecido Mel Gibson, o drama de guerra Gallipoli (1981), acompanha um grupo de jovens vindos das áreas rurais da Austrália Ocidental, que se alistam no exército para lutar na Primeira Grande Guerra.
Enviados para a Turquia, participam da trágica Campanha de Gallipoli, onde forças britânicas, francesas, australianas e neozelândesas, fracassaram na tentativa de invasão da Turquia com pesadas perdas para ambos os lados.
A opção do diretor na abordagem de uma tragédia nacional como o horror insensato de Gallipoli, foi a da densidade dramática. Weir cita Ingmar Bergman como uma influência nesta escolha, lembrando-se de uma frase do cineasta alemão: "você pode fazer qualquer coisa na tela, menos matar uma pessoa. A platéia não se convencerá".
Hoje visto como um clássico do cinema australiano, o filme também foi essencial para a carreira de Mel Gibson, que dois anos antes, chamara a atenção da indústria cinematográfica mundial em Mad Max (1979), outro grande sucesso australiano, dirigido por George Miller.
Grande sucesso nos cinemas da Austrália e reconhecido internacionalmente, Gallipoli reforçou a reputação de Peter Weir como um competente cineasta em ascenção.
O Ano Que Vivemos em Perigo (The Year of Living Dangerously, 1982) marcou o apogeu da fase australiana de Peter Weir com uma história sobre lealdade, idealismo, amor e ambição, situada na caótica Indonésia de 1965, durante o regime totalitarista do presidente Sukarno.
O título refere-se à uma famosa citação italiana usada por Sukarno em um discursso do Dia da Independência Indonesiana: vivere pericolosamente (viver perigosamente).
Trabalhando com Weir pela segunda vez, Mel Gibson interpreta Guy Hamilton, um ambicioso jornalista australiano que se apaixona por Jill Bryant (Sigourney Weaver), membro da embaixada britânica, enquanto cobre os conflitos armados entre grupos extremistas e as tropas governamentais em Jakarta, capital do país.
O filme foi baseado no livro de Christopher Koch e relata muitas experiências vividas por seu irmão Philip, correspondente da ABC em Jakarta na época. Por mais de dez anos, sua exibição permaneceu proibida na Indonésia.
Rodado na Austrália e nas Filipinas, O Ano Que Vivemos em Perigo foi a primeira co-produção entre Austrália e Hollywood, com o suporte da MGM para reunir os US$ 6 milhões necessários para completar seu orçamento. Até hoje, o filme manteve sua posição como a maior produção do cinema australiano.
Sua interpretação do policial John Book não decepcionou, e acabou rendendo-lhe sua única indicação ao Oscar.
John Book (Ford) é um detetive que tem a vida revirada ao investigar o assassinato de um policial, testemunhado pelo menino Samuel, de oito anos, filho da viúva Rachel (Kelly McGillis), ambos integrantes de uma comunidade Amish da Filadélfia (que rejeita a modernidade). Agora, Book precisa defender a inocente testemunha e enfrentar um poderoso esquema de corrupção envolvendo a alta cúpula da polícia. Traído e caçado, refugia-se na comunidade Amish, adapta-se ao diferente estilo de vida e apaixona-se por Rachel.
Também participam do elenco, os iniciantes Danny Glover e Viggo Mortensen. O filme também destaca-se pela belíssima trilha-sonora de Maurice Jarre (vencedor do BAFTA) e a inspirada fotografia de John Seale (premiada com o Oscar).
Com o sucesso de A Testemunha, Weir passou a ter mais autonomia na escolha de seus projetos e mais liberdade criativa sobre a produção. Este aspecto mostrou-se evidente em seu trabalho seguinte.
O elenco também destaca as excelentes performances de Helen Mirren e River Phoenix, que no mesmo ano, chamara a atenção por seu trabalho em Conta Comigo (Stand By Me, dirigido por Rob Reiner a partir da obra de Stephen King).
No entanto, sua busca pelo Sonho Americano só lhe trouxe frustração. Allie acredita que a América foi corrompida pelo consumismo exacerbado. Em sua visão, os americanos compram porcarias, vendem porcarias e comem porcarias. Além disso, tem a convicção de que, em breve, a ganância e a criminalidade causarão um holocausto nuclear.
Impulsivo, Allie decide deixar a América junto com a esposa (Helen Mirren) e os quatro filhos, partindo ruma à selva da América Central. Contudo, a odisséia da família Fox em busca do paraíso transforma-se num desastre à medida que o comportamento obssessivo de Allie torna-se cada vez mais autoritário e agressivo.
Três anos depois, Weir lançou seu segundo blockbuster, Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society, 1989), onde Robin Williams interpreta o carismático John Keating, um professor de poesia nada ortodoxo da Academia Welton, uma escola preparatória para jovens na década de 50, extremamente conservadora e com rígidos valores tradicionais, como honra, disciplina, tradição e excelência.
Com sabedoria e talento para cativar a atenção da classe, Keating inspira seus alunos a perseguir paixões pessoais que transformem suas vidas. Em sua visão, o caminho para a liberdade de pensamento inclui contestação e bom-senso, evitando que sua personalidade fique vulnerável ao condicionamento conformista da sociedade.
Através de imagens metafóricas e citações literárias de autores como Thoreau, Whitman e Byron, o filme tenta passar uma filosofia de vida sintetizada pela expressão latina "carpe diem" (aproveite o dia).
Foi premiado com o Oscar de melhor roteiro original e recebeu indicações para melhor filme, diretor e ator (Robin Williams). Venceu o César de melhor filme estrangeiro e o BAFTA de melhor filme e melhor trilha-sonora original (composta pelo maestro Maurice Jarre).
Experimentando o gênero pela primeira vez, Weir assumiu um grande risco ao escalar Gérard Depardieu (em seu primeiro filme de língua inglesa) para interpretar Georges, um músico francês em busca de um green card (documento de cidadania americana). Para isso, combina um casamento de conveniência com a americana Brontë (Andie MacDowell), que sonha morar num prédio proibido para solteiros. Tudo se complica quando os dois realmente se apaixonam.
A pesar das críticas negativas, Green Card foi mais um sucesso de bilheteria de Weir, indicado ao Oscar de roteiro original e vencedor do Globo de Ouro de melhor filme (comédia ou musical). O filme também marcou o início da carreira internacional de Depardieu, que foi premiado com o Globo de Ouro de melhor ator (comédia ou musical).
Sem Medo de Viver (Fearless, 1993) leva Weir de volta ao clima sombrio de seus dramas.
Max Klein (Jeff Bridges) e Carla (Rosie Perez), são dois sobreviventes de um desastre de avião. Carla perde seu bebê e Max, tem uma epifania que altera sua percepção sobre o medo e a felicidade. Relutante em deixar esse estado de êxtase, Max não percebe o distanciamento com aqueles à sua volta. Para Carla, a vida acabou no momento em que seu filho morreu e a depressão, é uma constante. Estes dois estranhos tem o destino cruzado pela tragédia e juntos, atravessam um momento decisivo.
O estilo narrativo de Weir e a poderosa atuação de Bridges sustentam e dão credibilidade a temática existencialista da história. A sequência do acidente de avião é conduzida lenta e subjetivamente pela ótica de Max em estado de choque. Os sons são abafados, alternando explosões e gritos. Com simplicidade, Weir intensifica o drama da cena. Em alguns momentos, o filme é pontuado pelo primeiro movimento da Sinfonia No. 3 de Henryk Górecki (também conhecida como A Sinfonia das Músicas Tristes).
Sem Medo de Viver foi bem recebido pela crítica, que destacou o trabalho de Bridges e Rosie Perez (indicada ao Oscar de atriz co-adjuvante) e a inventividade de Weir. Porém, seu tema denso e desconfortante não teve o mesmo apelo junto ao grande público como seus filmes anteriores.
Cinco anos depois, Weir retorna com O Show de Truman (The Truman Show, 1998), uma fantasia satírica que enfoca o controle da mídia sobre a vida, envolvendo temas como Cristianismo, realidade virtual e existencialismo, antecipando a explosão dos reality shows da televisão.
Entretanto, existe algo estranho neste paraíso. Em busca da verdade, Truman descobre que toda a sua vida é um reality show criado e comandado por Christof (Ed Harris), e que sua cidade, nada mais é do que um gigantesco estúdio que pode até ser visto do espaço.
A partir daí, Truman inicia sua jornada de libertação, conquistando seus medos em busca do mundo real.
O Truman criado por Carrey, equilibra humor e drama deliciosamente e dá ao comediante, a chance de diversificar a percepção do público sobre seu trabalho.
A música do filme também merece destaque. A excelente trilha-sonora original composta pelo australiano Burkhard Dallwitz, é pontuada por uma trilha incidental que inclui composições de Philip Glass (selecionadas de trabalhos anteriores como Powaqqatsi, Anima Mundi e Mishima), Chopin (concerto de piano Romance-Larghetto, executado por Arthur Rubinstein) e Mozart (Rondo Alla Turca - Piano Sonata No. 11, executada por Wilhelm Kempff).
Paul Bettany interpreta o cirurgião Stephen Maturin, médico de bordo, filósofo, naturalista e grande amigo de Aubrey.
Buscando o máximo de autenticidade, todo o elenco participou de um intenso treinamento na rotina da vida naval da época. A excelente direção de arte teve muito trabalho para reproduzir visualmente a ambientação da vida marítima a bordo de um galeão do século 19. Algumas cenas externas foram filmadas em alto mar, a bordo de uma réplica da fragata HMS Rose.
Cenas mais complexas (como a da batalha final), foram rodadas em um tanque artificial capaz de conter 2 réplicas de navios em escala original.
Uma sequência de tempestade foi finalizada com composições digitais de ondas originalmente filmadas a bordo de uma réplica do HMS Endeavour (do notório cap. Cook) nas águas revoltas do Cabo Horn (extremo sul do continente americano).
Peter Weir percorreu o mundo em busca de revelação e de uma maior compreenção da verdade. Já rodou filmes nos cinco continentes, mas sempre que viaja, acaba encontrando um caminho de volta à suas origens. Como qualquer bom artista, encara as aparentes contradições de sua natureza, não como problemas, e sim como oportunidades que incentivam sua curiosidade levando-o à buscar experiências diferentes.
Em seus filmes, o cineasta acabou por encontrar pessoas que, assim como ele, sempre assumem os riscos.
Atualmente morando em Sydney, sua cidade-natal, Peter Weir percorreu um longo caminho em sua carreira desde o início no quase inexistente mercado de cinema australiano dos anos 70. A pesar das duas décadas seguintes em Hollywood terem sido marcadas por grandes sucessos, aos 65 anos, este aclamado diretor ainda enfrenta grandes dificuldades para filmar e exibir suas produções em meio ao esquemão da indústria cinematográfica do século 21.